domingo, 25 de maio de 2014

Entrevista: Arlei Sander Damo

Reprodução YouTube

A Revista Café com Sociologia trouxe em seu volume Nº 02 uma entrevista com o antropólogo Arlei Sander Damo, uma das referências nos estudos sobre futebol e torcedores no Brasil.

A conversa foi realizada pelo prof. da UESPI Radamés de Mesquita Rogério, que também integra o corpo de pesquisadores da SEE. O material completo pode ser lido no site da revista, clicando aqui. A seguir, um pequeno trecho:

---

CAFÉ COM SOCIOLOGIA: Durante a realização da Copa das Confederações no último mês de junho no Brasil podemos presenciar uma série de manifestações que tomaram conta do Brasil. Um dos lemas mais emblemáticos e difundidos era “mais pão, menos circo”. No Brasil, há uma tendência a relacionar diretamente o esporte com a alienação de massa, como o senhor vê essa questão?

ARLEI SANDER DAMO: As manifestações ocorridas durante a Copa das Confederações precisam ser analisadas com cautela, respeitando-se as diversidades – de público, de pautas, de eventos, de estratégias, de desdobramentos, etc. É inegável que a Copa das Confederações exerceu um papel importante, fazendo convergir muitos interesses, no tempo e no espaço. Os diversos cartazes alusivos à Copa no Brasil convergiam no sentido de questionamento dos gastos públicos. Achar que o dinheiro gasto com as arenas poderia resolver os problemas da saúde ou da educação é uma fantasia. Mas não se pode ler essas manifestações sem matizá-las. O que as pessoas estavam expressando eram temas de economia moral. Não dá para construir um estádio como o de Brasília – custando três vezes o valor da Arena do Grêmio, inteiramente com dinheiro público (nenhum empresário botaria um tostão naquilo!), numa cidade que só tem time na terceira divisão -, no centro da capital federal, à vista de todos, e passar impunemente. Estádios como o de Brasília foram projetados para as classes altas, gente endinheirada com poder de consumo. Muita gente só se deu conta de que não vai ver os jogos da copa agora, mas isso estava sendo dito a
muito tempo. Em todo o caso, a reação foi intensa, abrupta e intempestiva. Não em tempo de impedir os gastos, mas ao menos de punir simbolicamente os responsáveis. Se isso vai se estender às urnas é outra história.

Acho que o conceito de alienação não explica coisa alguma, porque os que o utilizam querem explicar tudo. Penso que os movimentos sociais são diferentes no âmbito das questões ambientais, culturais, religiosas, econômicas e esportivas. Os torcedores brasileiros poderiam ser melhor articulados em termos de defesa dos direitos dos consumidores, por exemplo. Mas o que temos de organização, que poderia ser pensado como uma espécie de sociedade civil no interior do clubismo, são as torcidas organizadas. Elas representam muito bem os torcedores do ponto de vista estético e emocional. Elas são muito performáticas a este respeito, até mesmo nas questões que envolvem conflitos. Mas quando se trata de uma representação política, em termos diplomáticos e parlamentares, elas fracassaram. Não lograram forjar uma pauta para além de si mesmas. Elas sobreviveram por mais de três décadas das pequenas benesses obtidas junto aos clubes – ingressos subsidiados, sobretudo - e das rivalidades fratricidas. E não se pode dizer que não foram resistentes! Mas não conseguiram transcender a essas questões. Não conseguiram nem mesmo notar que as novas arenas não contemplam espaço para elas.

Leia a entrevista completa  no site da revista Café com Filosofia, clicando aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário